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Guias criam roteiros históricos para mostrar aos visitantes outras perspectivas da cidade do Rio

Conhecer o Rio sob uma perspectiva diferente, humanizada e repleta de histórias inéditas é um dos objetivos das caminhadas elaboradas por grupos pequenos de guias de turismo. Alguns vão além do calçadão preto e branco de Copacabana e fazem passeios em bairros mais distantes como Santa Cruz, na Zona Oeste, e Madureira, na Zona Norte. Outros, se aprofundam nas ruas históricas do Centro do Rio, mostrando pontos cruciais para a formação do Brasil e suas raízes.
A agência Descubra Santa Cruz já atendeu, desde maio de 2021, cerca de 3 mil turistas. De acordo com a dona e idealizadora do projeto, Andressa Lobo, a ideia surgiu quando trabalhava como guia de turismo em Copacabana, Zona Sul do Rio, levando turistas para conhecer Petrópolis, Região Serrana do Rio. “Eu percebi que os turistas que queriam conhecer a história imperial do Brasil procuravam pelo palácio retratado nos quadros de Debret, que é o de Santa Cruz, não o de Petrópolis. Me dei conta de que os turistas lá foram conheciam mais da gente do que os próprios moradores daqui.”
O projeto, que tem como objetivo mostrar Santa Cruz, por três roteiros diferentes, com a duração de duas horas cada um. O primeiro é na sede da Fazenda Imperial Real, que hoje abriga o Batalhão de Escola de Engenharia de Combate Villagran Cabrita, do Exército. O segundo roteiro aborda a importância da Fazenda de Santa Cruz na produção de alimentos e no investimento tecnológico. O terceiro é um passeio no centro do bairro, falando sobre os tipos de residências e marcos.
“No segundo roteiro, a gente explica que Santa Cruz teve o primeiro gerador de energia elétrica do Brasil e o primeiro telefonema realizado no Hemisfério Sul”, disse Andressa.
No passeio pelo centro do bairro, o roteiro aborda casas de pessoas ilustres, como a do senador Júlio Cesário de Melo, que hoje funciona como uma ONG. “Temos o prédio do antigo colégio Santa Cruz, que se chama Palacete Orácio Lemos, uma figura importante do Vale do Café. Ele usava essa residência para negociar no Rio e, posteriormente, funcionou como um orfanato e depois como o primeiro colégio particular da região”, comentou Andressa.
O roteiros acontecem mensalmente e de forma colaborativa. “Eu não coloco valor mínimo porque, por exemplo, já passei por uma situação com 17 crianças e a professora tinha apenas R$ 2,10 de contribuição. Era um colégio daqui. As crianças ficaram apaixonadas pelos passeios e para elas foi impressionante entender um pouco da história do bairro”, contou Andressa. “Também faço trabalho voluntário para a rede pública de ensino e projetos sociais.”
“Eu passei por várias caminhadas da Andressa. É um território que você se acostuma a vivenciar, você olha com o olhar da correria do dia a dia”, disse Claudia Gomes da Cunha.
Quem quiser fechar um roteiro à parte com data marcada, o valor é R$ 25 por pessoa, com no mínimo quatro para cada roteiro. O contato pode ser feito através de sua página no Instagram.
Zona Norte
Nascida e criada no subúrbio carioca, em Cascadura, a urbanista Karolynne Duarte, de 39 anos, sempre usufruiu dos bairros que faziam limite com o seu: Quintino, Cascadura e Cavalcante, todos na Zona Norte. Com o olhar atento à cultura e crescendo nesse ambiente, entrou para a faculdade de Arquitetura e Urbanismo, na Universidade Federal do Fluminense (UFF) e se apaixonou pelas cidades. “Eu entrei na faculdade pensando em ser arquiteta, em trabalhar com projetos, interiores, mas nunca me vi urbanista. Foi na universidade que me descobri”, disse.
Na faculdade, Karol começou a entender os territórios e suas culturas. Em 2012 ela desenhou uma ideia de fazer roteiros turísticos pelo subúrbio carioca. “A ideia era apresentar a história desses bairros, por ser lugares que todo mundo fala mal, inclusive morador. Comecei a descobrir mais sobre o jongo, a capoeira, o samba e fui trazendo a possibilidade de criar roteiro nos dias que tem essas rodas culturais”, explicou.
Os passeios de sua agência, a Turismo Cultural Suburbano, são caminhadas guiadas por Madureira, Penha, Méier, Irajá, Marechal Hermes, entre outros. “O que me interessa é falar do meu lugar, da minha região, rica em cultura. O monumento maior é a cultura, não só o Cristo ou o Pão de Açúcar. Meu maior elemento dentro do roteiro é o imaterial, que é o cotidiano carioca, isso de viver a rua, de trocar experiências.”
No Centro do Rio, um grupo que já trabalha há quase dez anos fazendo caminhadas de forma colaborativa carrega inúmeros turistas pelas ruas históricas do Centro do Rio. A agência Free Tour Rio foi criada com o objetivo de contar as histórias do Rio Antigo para quem quiser conhecer mais. São três roteiros, segundo a dona, Luana Soares de Assunção, de 33 anos. O tradicional, que começa na Lapa e conta a história da vinda da família real para o Brasil, o ‘Herança africana’, que explora a região da pequena África, perto da Gamboa e região portuária, falando sobre os escravos, e o chamado ‘Pub Craw’, que é um passeio em alguns bares do Centro, à noite.
“Os dois passeios, da Lapa e da herança africana, não cobramos valor determinado. A pessoa faz e, de acordo com a sua situação, colabora com o que tem ou o que quer pagar”, disse Luana. “Os passeios duram cerca de três horas cada um”, explicou.
Fonte: O Dia

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